sábado, 7 de enero de 2012

As Sete Profecias Maias: II - O eclipse de 11 de agosto de 1999

A segunda das sete supostas profecias maias, segundo o site Profecias Maias,  diz que no nível humano as mudanças començaram em 11 de agosto de 1999 quando aconteceu um eclipse solar.  A particularidade deste eclipse foi a disposição dos planetas em torno da Terra.  Em palavras do site (tradução minha):
[...] foi um eclipse sem precedentes na história, pelo alinhamento em cruz cósmica com centro na terra de quase todos os planetas do sistema solar, se posicionaram nos quatro signos do zodíaco, que são os signos dos quatro evangelistas, os quatro custódios do trono que protagonizam o Apocalipse segundo São Jõao.
Para ilustrar esta afirmação mostram as seguintes figuras.




Apesar que as figuras são de pouca qualidade, podemos ver na superior a distribuição em cruz: por encima da Terra estão Urano e Netuno, embaixo, o Sol, Mercúrio e Vênus. A direita está Marte e a esquerda Júpiter e Saturno.  Na figura inferior inclue-se o signo zodiacal em que encontram-se os planetas: Urano e Netuno em Aquário, em Touro, Júpiter e Saturno, o Sol, Mercúrio e Vênus no Leão e Marte no Escorpião (Utilizando software livre recalculei a Carta Astral desse mesmo dia e verifiquei que Vênus está em Virgo e não no Leão). 

Para mostrar de outra forma esta afirmação calculei a posição de todos os planetas (incluindo Plutão porque em 1999 era usado pelos astrólogos ainda)  o Sol e a Lua desde uma visão geocéntrica (que é a visão da Astrologia) para aquele 11 de agosto de 1999 as 11:00 UTC, momento próximo do máximo do eclipse solar, usando o programa Horizons, desenvolvido pelo JPL da NASA. Na figura abaixo coloco os planetas em órbita em torno da Terra na ordem  da  teoria geocéntrica, base da Astrologia.  Os planetas encontram-se a igual separação de seus vizinhos, também de acordo com a teoria astrológica que não considera distâncias.  Não coloquei as constelações porque, como deve saber o leitor, existe um descompasso com o Signo  por culpa da precessão dos equinócios.   


O círculo azul no centro é a Terra, os demais círculos vermelhos são os planetas, a Lua e o Sol.  As circunferências azul claro marcam as órbitas. O alinhamento em forma de cruz (retas verdes) resulta  mais aproximado que no esquema usado de referência. Plutão está completamente fora do mesmo, provavelmente por isso não foi incluso.  

Segue dizendo o site:
Ainda, a sombra que projeta a lua sobre a terra atravesou Europa passando por Kosovo, depois por Meio Oriente, por Irão e Iraq e posteriormente foi  a Paquistão e Índia, con sua sombra parecia prever uma área de guerras e conflitos.
Ilustram o texto mapas com o percurso da totalidade do eclipse tomados de um site da NASA. Reprodusco abaixo os mapas desse site.  O eclipse começou no Oceano Atlántico Norte e foi passando por Europa Central, ingressando  pelo sul do Reino Unido para seguir pelo norte da Frânça, Alemânha, Austria, Hungria, Romênia e Bulgária (eu não vejo que passe por Kosovo).



No Méio Oriente passou por Turquia, o norte de Iraq e Irão.


Por último atravessou o sul do Paquistão e a região central da Índia, concluindo no Oceano Índico.


Este eclipse não teve particularidade astronômica alguma. Sua duração, no momento da totalidade, foi inferior a 2 minutos (os de maior duração chegam a mais de 7 minutos).  O percurso que supostamente privilegia lugares de conflitividade, na realidade se mostra bem ao contrário: passou por doze países, sendo os conflitivos apenas três: Iraq, Irão e Paquistão. Por Iraq passou muito ao norte, por Paquistán muiyo ao sul.  Como mensagem parece muito sutil (por não dizer, bastante fraco). 

Os maias conheciam os eclipses, claro, mas não existe prova nenhuma que tivessem a capacidade de prevê-los. Então, de onde pode-se supõr que eram capazes de fazer profecias por meio de eclipses?  Esta é uma profecia mais sem nenhuma base científica, histórica ou arqueológica.

miércoles, 4 de enero de 2012

As 7 Profecias Maias: I - O Aumento da atividade solar

No site www.profecias-mayas.com são relacionadas as 7 Profecias Maias (não achei um site similar em português).  Ali está escrito que os maias deixaram espalhadas suas profecias em diferentes monumentos, pedras e códices,  mesmo nos Chilam Balam, livros escritos depois da ocupação española a territorio maia, dos que falamos num post anterior.  No entanto o texto do site não diz por que são sete, nem refere com precisão de onde foram extraidas. 

A Primeira Profecia fala de um ciclo solar em sintonia com o jato galático. Textualmente traduzo parte do texto (acessado em 3 de janeiro de 2012)

Os Maias sabiam que nosso sol (eles o chamavam kinich-Ahau) é um ser vivo que respira e que cada determinado tempo sincroniza-se com o enorme organismo em que existe, que ao receber uma faisca de luz do centro da galáxia brilha mais intensamente, produzindo na superficie o que os nossos cientistas chaman de erupções solares e mudanças magnéticas, eles dizem que isto acontece a cada 5.125 anos, que a Terra  vê-se afetada pelas mudanças no Sol por causa de um deslocamento de seu eixo de rotação, e profetizaram que a partir desse movimento produziriam-se grandes cataclismos, para os maias os processos universais como a respiração da galáxia são cíclicos e nunca cambiam, o que muda é a conciência do homem que passa através deles, sempre num processo de aperfeiçoamento. Baseados em suas observações os Maias profetizaram que a partir da data de sua civilização desde o 4 Ahau 8 Cumku, quer dizer, desde o ano 3113 AC, 5.125 no futuro ou seja em 21 de dezembro do ano 2012, o Sol, quando receber um forte raio sincronizador proveniente do centro da galáxia, mudará sua polaridade e produzirá uma gigantesca chamarada radiante.
É interessante o texto porque faz referência a questões muito científicas, não apenas a temas simbólicos.  O Sol, diz esta profecia, sincroniza-se com a Galáxia (e aqui escrevo com maiúsculas porque trata-se da Vía Láctea) por meio de uma faisca e começa a produzir o que os cientistas chaman de erupções solares, mudanças magnéticas e um deslocamento do eixo de rotação terrestre. Esta sincronização acontece a cada 5.125 anos (os 13 baktunes da Contagem Longa maia).  

O Sol, efetivamente, padece de erupções e também  de fulgurações ou explosões. No entanto seu ciclo não é de 5.125 anos, mas de, aproximadamente, 11 anos.  A origem deste ciclo de atividade está em processos internos que em conjunto levan o nome de Dînamo Solar.  E mesmo com bastante imprecisão podemos calcular razoavelmente bem como evoluciona.  Eu diria que a sua predição melhora a cada década.  Consequência deste ciclo é a comutação do Campo Magnético solar, que inverte sua polaridade, ou seja, o Norte torna-se Sul e vice versa.  

E qual é a relação com a Vía Láctea?  Nenhuma.  Partindo do fato que a Vía Láctea no possui jato nenhum em seu centro como outros tipos de galáxia sim (as chamadas Galáxias de Núcleo Ativo), mal poderia enviar alguma faisca.  O núcleo de nossa Galáxia tem, claro, um brilho (embora a luz normal, aquela que apreciamos por meio de  nossos olhos, fica absorvida pela poeira do caminho) mas nenhum período de 5.125 anos é conhecido.  Diria ainda mais, nenhum ciclo é conhecido. 

O Campo Magnético terrestre também sofre inversões como o solar, mas diferentemente deste, seus ciclos são desconhecidos.  Em qualquier caso, sabemos que aconteceu mitas vezes no passado e que entre cada inversão passam-se centenas de milhares de anos.  Aqui tampouco achamos uma relação com a Contagem Longa maia e seu ciclo de 5.125 anos.  E por último, o eixo terrestre não sofre nenhum desvio súbito. A direção do mesmo vai mudando suavemente dando uma volta inteira em mais ou menos 26.000 anos, este período é conhecido como Precessão dos Equinócios.


Segue dizendo o site das profecias maias:

A primeira profecia nos fala do tempo do não-tempo, um periodo de 20 anos chamados por eles um katún, os últimos 20 anos desse grande ciclo solar de 5.125 anos, quer dizer desde 1992 até o ano 2012. Profetizaram que até esse tempo manchas do vento solar cada vez mais intensas apareceriam no Sol, desde 1992 a humanidade entraria num último período de grandes aprendizados, grandes mudanças.
Neste trecho afirma-se que a atividade solar incrementou-se desde 1992 até agora e que continuará essa tendência.  Para verificar esta afirmação preparei um gráfico.  Foi feito com dados do NOAA, um órgão norte-americano oficial.  Na figura abaixo podem ver o resultado. 

A curva vermelha representa o Índice de Manchas, um número elaborado diariamente que representa a quantidade de manchas na superficie solar (podem achar aqui a fórmula). O valor do índice pode ser lido no eixo vertical (ordenadas) enquanto que no horizontal (abcissas) está o ano.  Aqui estou graficando a média mensal entre finais de 1991 e meados de 2011.  O primeiro que vemos é a variação entre quase 0 e 220, que é produzida pelo Ciclo Solar.   Em 1992 o Sol estava próximo do máximo e chegou a ter um índice de mais de 200. Em 2001 aconteceu o seguinte máximo, mas o índice não chegou no mesmo patamar de 11 anos antes. Mais, durante o mínimo de 2008 chegou a ter um valor de quase 0 (zero) coisa que não aconteceu durante o mínimo anterior em 1996 cujo índice ficou em torno de 10.  O final da curva vermelha é meados de 2011, muito perto do temido 2012.  Embora a atividade solar aumentou, está longe de ser preocupante. Muitos cientistas esperam que este ciclo tenha um máximo de menor intensidade que o anterior. Ou seja, ao contrário do que a primeira profecia maia afirma,  a tendência é uma gradual diminuição da atividade solar.

Em síntese, nem o Sol sincroniza-se com uma inexistente faisca galática, nem a atividade solar está aumentando.  A profecia, vemos, não tem nenhum sustento científico e pelo contrário oferece informações erradas ao leitor.