sábado, 19 de marzo de 2011

A desgraça do dia 11

Até que as Torres Gémeas de Nova Yorke foram derrubadas num ataque terrorista, o dia do infortúnio era o décimo terceiro de cada mês. Pior em sexta feira. Nunca houve base estatística para apoiar esta afirmação. O novo milênio parece ter inaugurado uma nova tradição: a desgraça ocorre nos dias 11, como com as Torres Gêmeas, que cairam no 11 de setembro há 10 anos. Em 2004, um atentado na estação de trens de Atocha em Madri, aconteceu em 11 de março. O recente terremoto/tsunami no Japão, também foi em 11 de março. Quando três coincidências são encontradas, os temores se desatam.

Tem algo de particular esssa data? Se fosse a vontade humana, como no caso dos atentados, poderia-se suspeitar que sim. Porém, não resulta muito estratégico realizar ataques sempre no mesmo dia, os serviços de inteligência teríam seu trabalho facilitado. E de fato não é assim. O terceiro atentado da série inaugurada em Nova Yorke, aconteceu em Londres, onde um 7 de julho de 2005, foram colocadas bombas em algumas estações do metrô. Outros atentados mundialmente famosos deste milenio, aconteceram na Rússia. Por exemplo, em 23 de outubro de 2002, um grupo armado separatista tchetcheno tomou de reféns a várias centenas de pessoas num teatro de Moscou, mais de um centenar faleceu durante a retomada do prédio. Alguns anos mais tarde, na cidade de Beslan, Ossétia do Norte, outro grupo armado tomou uma escola com todas suas crianças. Novamente, o episódio acabou em tragédia com a morte de mais de 300 pessoas, dentre elas, 184 crianças. E tudo começou em 1ro de setembro de 2004.

É difícil, no entanto, fazer uma lista completa destes eventos para analizar se há evidências estatísticas da pressença de algúm dia especial. Mas, sabendo que as forças da natureza escapam do controle humano, a distribuição dos acontecimentos deveria ressaltar a presença de um dia infausto. Por esse motivo, voltei para a lista de terremotos. Esta vez os obtive do portal do Serviço Norte-americano de Geologia, de uma lista de terremotos escolhidos por seu interesse histórico. Em geral trata-se de tremores de magnitude superior a 6 e que provocaram grandes danos e mortes. A lista começa no ano 856 e inclui o recente terremoto do Japão, para um total de 946 casos, grande o suficiente para que a estatística seja significativa.

Primeiro contabilizei o número de terremotos por dia do mês. Na figura abaixo estão os resultados. No eixo das abscissas (horizontal) o dia do mês (de 1 até 31), no eixo das ordenadas (vertical) a porcentagem de eventos que aconteceram esse dia respeito do total.



Porcentagem de terremotos para cada dia do mês. Lista de terremotos históricos obtida do Serviço Geológico Norte-americano em 19 de março de 2011.

Da figura ve-se que o dia 11 não tem característica particular nenhuma. Na verdade, o "vencedor", com quase o 5% dos casos, é o dia 16. De qualquer maneira, a distribuição por dia do mês parece ser bastante uniforme. Podemos nos perguntar se existe alguma diferença nos meses em que acontecem estes fenômenos. Da mesma lista separei os eventos por mês e o resultado está na figura abaixo.



Porcentagem de terremotos por mes do ano. Lista de terremotos históricos obtida do Serviço Geológico Norte-americano em 19 de março de 2011.

Novamente a figura mostra uma distribução bastante uniforme, com aproximadamente 100/12 = 8,3 % de casos para cada mês. Por último fiz a mesma busca sobre os dias do ano. A resposta continua a ser uma distribuição monotonamente uniforme, como mostrado abaixo.



Distribuição percentual dos terremotos em função do dia do ano. Lista de terremotos históricos obtida do Serviço Geológico Norte-americano em 19 de março de 2011.

A porcentagem esperada é 100/365 = 0.27%, e é o que observamos na figura. Os três dias que se destacam, com cerca de 1% de probabilidades, são o 26 de maio, o 29 de junho e o 7 de outubro. De qualquer forma, não é uma porcentagem muito significativa. E as datas não têm nada a ver com o dia 11.

A impressão de que há dias infaustos baseia-se numa memória breve, numa estatística de poucos casos, e, seguramente, nessa necessidade por achar uma ordem no Universo. Mesmo que essa ordem signifique o nosso Apocalípse.

lunes, 14 de marzo de 2011

Está aumentando a freqüência de terremotos? (Segunda parte)

Buscando na Internet achei o seguinte site: http://www.divulgence.net/global_earthquakes_index.htm. Os autores afirmam que o número de terremtos aumentou drasticamente entre 1973 e 2007. A figura abaixo é cópia da figura dessa página, que mostra o número total de terremotos por ano.






Produzido por http://www.divulgence.net. Acesso em 14 de março de 2011.


O site parece desativado porque o gráfico não foi atualizado nos últimos quatro anos (desde 2007). A partir do que mostrei no post anterior (Está aumentando a freqüência de terremotos?) não consigo ver como chegaram a construir um gráfico semelhante. Mas o interessante é que eles dizem obter os dados do site do Serviço Geológico Americano (USGS). O USGS, na página dedicada a mitos sobre terremotos, diz:
Apesar de que pode parecer que temos mais terremotos agora, o número dos de magnitude 7.0 ou maior permaceu bem constante ao longo deste século e, de acordo com os nossos registros parece estar diminuindo.
(Tradução minha do texto: Earthquake myths, acesso em 14 de março de 2011. O ressaltado é meu também). Na mesma página, um tesouro de outras informações. Mas, em inglês.

Numa outra página (Earthquake facts and statistics graphs), o mesmo serviço mostra um gráfico com os terremotos de magnitude 5,0 ou maior, dos últimos 20 anos que eu copio abaixo.





Copyright US Geological Survey. Acesso em 14 de março de 2011.


A figura, mostra, tal como a que eu mesmo fiz, que o número de terremotos não está aumentando. Eu não consigo ver que esteja diminuindo, mas, eles têm os dados e podem fazer a estatística de forma mais correta.

Em suma, ainda não entendo como o pessoal da divulgence chegou naquela figura.

domingo, 13 de marzo de 2011

Está aumentando a freqüência de terremotos?

Uma nova tragédia sacude a humanidade. Na sexta feira 11 de março, um terremoto de grande magnitude com epicentro próximo da costa leste do Japão, gerou ondas gigantescas (tsunami) que devastaram cidades sobre o mar. Ainda hoje, dois dias depois, não sabemos ao certo o número total de perdas humanas, muito menos o tamanho do dano econômico.

Toda vez que acontece um tremor desta magnitude as pessoas sentem (e a mídia se torna um eco dessas preocupações) que os tremores estão aumentando, que são cada vez mais mortíferos, que talvez sejam um sinal do Fim dos Tempos, que tudo não é mais que um castigo da Mãe Natureza pelos excessos do homem e sua tecnologia. E todas as vezes a resposta dos geofísicos é a mesma: não, os tremores não estão aumentando, nem sequer às vésperas do tão aguardado 2012.

Sem ser um especialista em geofísica, tomei dados de terremotos da Wikipedia (List of 21st-century earthquakes), desde o ano 2000. A lista é claramente incompleta e portanto apenas guardei os tremores de magnitude Richter superior a 7. Com eles fiz um gráfico que mostra a magnitude do terremoto em função do tempo. O resultado, na figura abaixo:




Magnitude dos terremotos (cruzes vermelhas) em função do tempo a partir do ano 2.000. Apenas terremotos de magnitude superior a 7 são mostrados.

Conclusão, não há nenhuma tendência a cambiar a quantidade nem a magnitude dos terremotos. O mais intenso da série (9,1), produziu um tsunami que devastou a Indonesia em 26 de dezembro de 2004. Mas, nem todos os terremotos intensos provocam tantas mortes. Por exemplo, em 15 de agosto de 2007, aconteceu um tremor de magnitude 8,0 no Peru que deixou apenas 513 mortos oficiamente.

Com uma magnitude de 9,5, o maior terremoto registrado com sismógrafo, aconteceu na cidade de Valdívia, no Chile, em 22 de maio de 1960.