miércoles, 16 de diciembre de 2009

Apocalípse 2009

Este blog foi criado para falar de previsões de Fim de Mundo en geral. Neste momento, acompanhando as discusões de Copenhagen, milhões de pessõas no Mundo sofrem, se esperançam, se aterram com as consequências das possíveis decisões da conferência COP15. Hoje não há outro Apocalípse que o Apocalípse climático.

Tenho uma rejeiçaõ instintiva pela ideia do Apocalípse que me leva sempre a duvidar, sem importar a origem. Podem ser sumos sacerdotes de pias igrejas, gnósticos de conhecimentos herméticos ou cientistas de renomados diplomas. Aquí minhas razões.

1) Declaro que eu sou atéu do Apocalípse, deidade criada para someter pelo medo ao crédulo, ao medroso, ao carente de esperança.

2) A história mostra que todas as formas de conhecimento têm emitido já veredictos finais para a Humanidade e todas elas falharam até o momento. Incluida a ciência. Seria muito interessante (e será um projeto para aquele dia em que tenha o tempo que sempre me falta) realizar uma revisão de todas as previsões que a ciência fez do Fim dos Dias. Registro aqui apenas uma, a primeira que vem na minha cabeça: Thomas Robert Malthus defendeu com rigor científico a finais do século XVIII que haveria escassez de comida. Muitos deduziram a partir de suas ideias que a humanidade pereceria de fome. O Malthusianismo de vez em quando volta a cena, a última vez que eu lembre foi na década de '70, mas hoje maiormente foi esquecido porque fomos capazes de desenvolver técnicas para melhorar o rendimento da agricultura e porque em definitiva, a humanidade sempre encontra os caminhos de realimentação que fazem com que esse destino cruel não chegue.



Thomas Malthus
Thomas Robert Malthus (1766 - 1834), economista inglês, autor do Ensaio sobre o princípio da População (1798) que afirma que enquanto o número de habitantes cresce em progressão geométrica, a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. É fácil concluir a partir deste modelo que num futuro próximo se produzirá uma fome generalizada.

3) A teoria do câmbio climático não fecha. Quer dizer, não que não acredite no câmbio, o que não fecha é o Apocalípse. Mesmo considerando que as conclusões publicadas não sejam erradas e a temperatura subiu 0,74 ºC entre 1906 e 2005, as previsões do Painel Intergovernamental para o Câmbio Climático (IPCC) me parecem exageradas. Muitas delas são baseadas em modelos que sabemos incompletos. E que são incompletos sabemos porque nenhúm desses modelos foi capaz de prever com suficiente anticipação fatos como a nevada de 9 de julho de 2007 em Buenos Aires. E nenhum desses modelos é capaz de explicar por qué o gelo da Antártida não diminui, ou por qué não tem mais ciclones tropicais (fatos reconhecidos pelo próprio Painel). Colocado de outra forma, o modelo de produção de alimentos e de crescimentos da população de Malthus que comentei antes não estava errado, era, simplesmente, incompleto.

4) Existe uma ideia generalizada de que a Natureza mantem um equilíbrio que o homem veio a quebrar. O própio relatório do Painel diz textualmente, "O aquecimento atropogênico pode gerar alguns impactos abruptos e irreverssíveis, dependendo da taxa e magnitude do câmbio climático" (tradução minha). No entanto sabemos a vida é um processo termodinâmico irreverssível, e por isso está sempre fora do equilíbrio. O que chamamos equilíbrio não é mais que uma sensação criada por um olhar fugaz, tanto espacial quanto temporal.

Há 60.000 anos, a temperatura da superficie da Terra era 8ºC inferior à atual (uma mudança 10 vezes maior que a atual se aceitamos as conclusões do Painel). A vida não desapareceu e ainda mais, tinha um mamífero bípede, que vivia em cavernas e que provavelmente já tinha descoberto sua subjetividade, que hoje chamamos homo sapiens sapiens e que sobreviveu esse inverno extremo em condições bastante menos vantajosas que as atuais. Mais ainda, esse episódio, um prologandíssimo e severo inverno, aconteceu não uma mas quatro vezes nos últimos 400.000 anos. E o homo sapiens sapiens suportou as quatro vezes as condições extremas.

Não vou a entrar aqui na análise econômica e geopolítica relacionada ao Câmbio Climático. Me supera. Falo como um cientista acostumado a lidar com instrumentos de medição, dados e modelos. Não acredito que tudo seja uma mentira. Uma parte é verdade. Resta ainda saber qual.

PS.: Um dos textos mais angustiantes que li recentemente é o Relatório do IPCC. É de tirar o fólego. O Apocalípse de São João parece conto de crianças...