sábado, 16 de mayo de 2009

Cosmos

O ano, 1981. Eu era um aspirante de estudante do curso de física da Universidad de Buenos Aires. Morava no apertado apartamento de meus queridos e saudosos tíos Morocha y Hugo. Um moleque de 19 anos que aspirava dedicar-se às ciências, enquanto realizava tareas administrativas num prédio da zona de Retiro em Buenos Aires. Com muita propaganda anunciou a televisão que iria passar uma série documental sobre astronomia chamada Cosmos. Parecia um progama interessante. Meu primo Alberto me invitou a assisti-la em sua casa, durante o jantar, acredito que ia toda quinta as 9 da noite. A comida extendia-se bem depois da emissão do programa, em meio a discusões quase-filosóficas e especulações meio-científicas. Cosmos virou a minha cabeça.

Permitam uma localização histórica a quem veio depois no mundo. Internet não era uma palavra aínda, pelo menos não para a maioria do mundo. Os computadores tinham tamanhos comparáveis a uma sala. A divulgação científica era escassa. A última grande missão ao espaço era o envio de duas sondas a Marte de nome Viking. O maior telescópio continuava a ser o de Monte Palomar, com pouco mais de 5 m de diâmetro. (Estava também o soviético do Cáucasso, de 6 m, mas de performance tão ruim que nunca produziu um resultado científico importante.)


Carl Sagan frente a uma das antenas do Very Large Array em New Mexico (USA)


O documental centrava-se na figura de Carl Sagan, um astrofísico de importantes contribuções e que gostava dizer que era um exobiólogo. Tudo podía ser relacionado ao fluir do Cosmos, a física, a matemática, a vida, a história do Mundo. De fato o título completo era: Cosmos: Uma viagem pessoal. Treze capítulos (talvez quis mostrar Sagan que não era supersticioso?) com títulos tão sugestivos como As Margens do Oceâno Cósmico, Uma Voz na Fuga Cósmica ou Quem fala pela Terra? formavam a coleção completa que depois foi vendida como livro, em fitas VHS, e agora DVD. O relato de Sagan era fluido e nos trazia uma mensagem ao mesmo tempo positivista e racional como esperançada e moral. Sagan era un apóstolo da ciência na que acreditava apaixonadamente. A série contava também com uma seleção musical excelentemente escolhida que incluia a Shostakovich, Mozart, Pachelbel e a famosa peça minimalista Alpha de Vangelis, dentre outras. A isto adicionava-se um trabalho artístico dirigido pelo genial Jon Lomberg, que em alguns casos parece ter previsto as imágens que tomou o Hubble Space Telescope mais de 10 anos despois. O formato em geral, invitava à reflexão, longe dos nervosos documentais Videoclip-like que mais confundem do que esclarecem.

Leio hoje no jornal que completa 29 anos a estreia da serie nos USA e aquí no Brasil já preparam as celebrações dos 30. Na Argentina a série é repetida no canal público Encuentro. Me alegra. A geração Cosmos, a qual eu pertenço, muito lhe deve. Como também à série Connections de James Burke, assim como aos films Tron, Blade Runner (dentre outros), às novelas da n-logia Fundação (Asimov), ao Cubo Mágico e às calculadoras programáveis HP. (Eu adiciono meu queridíssimo e não tão popular Stanislaw Lem cujas novelas Investigação e Febre do Feno me fascinaram enquanto que Ciberíada me fez rir até o desmaio).

É uma excelente notícia saber que Sagan ainda segue fazendo escola. Aínda mais no Ano Internacional da Astronomia. Deixo aqui a primeira parte do capítulo de apresentação. espero que o desfrutem tanto quanto eu.

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