martes, 29 de diciembre de 2009

Apocalípse 2000

Há exatos 10 anos proliferava no Mundo a visão de um próximo Apocalípse. O ano 2000 se aproximava e com ele infaustas premonições eram difundidas sem cesar. Não interessa já que alguns corregissem o início do milênio, argumentando que só o ano 2001 era o portal do século XXI. Na verdade não tem relevância alguma essa pequena correção, está suficientemente demonstrado que Cristo não nasceu no ano 1 da Era Cristiana (que contradição...!) mas provavelmente varios anos antes.

Há 10 anos festejávamos o fato de trocar o número 1 da frente pelo 2 e isto, de não acontecer um câmbio de calendários, o fariamos por 1000 anos mais. Não tinha por trás desta mudança outra transcendência que a de ter escolhido o sistema decimal de notação. E esta eleição, segundo alguns, devemos ao fato de termos 10 dedos, e segundo outros ao mero acaso.

Os apocalípticos de turno, no entanto, não duvidaram em lançar as mais assutadoras previsões para o ano que começaria. Uma delas era apenas técnica: os computadores receberam uma pesada herança de sua época de espartanos recursos: a pouca memória do sistema obrigou os programadores a abreviar os anos aos dois algarismos menos significativos e assim a (19)99 seguiria (20)00. Então, o tempo transcorrido entre um dia do ano de 1999 e outro do ano de 2000 seria de mais de 99 anos negativos para um computador. Este era o famossissimo Y2K Problem. O defeito poderia produzir um efeito em cascata e um colapso generalizado do sistema bancário, financeiro e comercial era temido. Nada disto aconteceu simplesmente porque as corporações tomaram providências e os anos prévios investiram o bastante para evitar problemas*.

O ano 2000 trouxe de presente um fenômeno astronômico que acontece não muito frequentemente, quer dizer, a cada 40 anos aproximadamente: o alinhamento planetário. Na verdade nunca acontece um alinhamento perfeito, este é praticamente impossível porque as órbitas não estão no mesmo plano. Mas considerando o período orbital dos planetas mais lentos, Saturno e Júpiter (descarto Urano e Netuno porque não são vissíveis a olho nû e Plutão porque nem sequer é planeta), 40 anos é o tempo que leva encontrar-se próximos um do outro e essa proximidade deve durar um par de anos pelo menos dada a lentidão de seus movimentos. O período de Marte, de pouco mais de 2 anos, faz com que se agregue a esse encontro em algúm momento. Vênus (~200 dias de periodo) e Mercúrio (~ 90 dias) passarão várias vezes frente aos gigantes. Podemos adicionar a Lua (~28 dias) e a visão noturna será perfeita. Na foto abaixo vemos uma bela conjunção onde só falta Mercúrio.



Fotografia da conjunção de 14 de maio de 2002. Peço desculpas a seu autor porque perdi a referência...


No 5 de maio de 2000 tivemos uma tal conjunção planetária, no entanto esta não seria a melhor. Pelo contrário a de 14 de maio de 2002 seria a que mais objetos simultaneamente colocaria muito próximos. Ou seja, o Apocalípse 2000 viria demorado por dois anos. Além do mais não se tratava de um fenômeno único em milhares de anos, todo contrário, é muito recorrente e nem sequer poderia se dizer que foi um alinhamento perfeito, vejam abaixo a simulação de uma viagem espacial que realizei mostrando como se vê 3D o encontro celestial de maio de 2002.




Simulação 3D de uma viagem pelo Sistema Solar em14 de maio de 2002. Partimos da Terra e nos afastamos para ver a órbita dos planetas até Saturno. Pode-se ver que os planetas não ficam sobre uma linha reta e que seus planos orbitais são também diferentes. A simulação foi realizada por meio do programa Celestia


Lembro que naquela época muitos se preparavam para o magno acontecimento. Em Brasil, onde eu morava, teve muita gente que foi até o planalto em torno de Brasilia porque diziam que alí é uma região cósmica. O certo é que o alinhamento de maio de 2000 veio e foi embora, também o de 2002. Os anos foram passando. E hoje celebramos os 10 anos do Terceiro Milênio.

Os arautos do Apocalipse seguem tocando seus trompetes. No entanto ainda estamos aqui. E não duvido que aqui estarão os descendentes de nossos descendentes, para receber o Quarto Milênio.


* Para o ano de 2038 se espera um problema semelhante ao Y2K. O tempo é geralmente armazenado em unidades de 32 bits e contado em segundos a partir do 1 de janeiro de 1970. Em 19 de janeiro de 2038 as 03:14:07 UTC todos os contadores baseados neste sistema voltarão a zero e os programas o interpretarão como 1 de janeiro de 1970. Este problema é conhecido como Y2K38.

miércoles, 16 de diciembre de 2009

Apocalípse 2009

Este blog foi criado para falar de previsões de Fim de Mundo en geral. Neste momento, acompanhando as discusões de Copenhagen, milhões de pessõas no Mundo sofrem, se esperançam, se aterram com as consequências das possíveis decisões da conferência COP15. Hoje não há outro Apocalípse que o Apocalípse climático.

Tenho uma rejeiçaõ instintiva pela ideia do Apocalípse que me leva sempre a duvidar, sem importar a origem. Podem ser sumos sacerdotes de pias igrejas, gnósticos de conhecimentos herméticos ou cientistas de renomados diplomas. Aquí minhas razões.

1) Declaro que eu sou atéu do Apocalípse, deidade criada para someter pelo medo ao crédulo, ao medroso, ao carente de esperança.

2) A história mostra que todas as formas de conhecimento têm emitido já veredictos finais para a Humanidade e todas elas falharam até o momento. Incluida a ciência. Seria muito interessante (e será um projeto para aquele dia em que tenha o tempo que sempre me falta) realizar uma revisão de todas as previsões que a ciência fez do Fim dos Dias. Registro aqui apenas uma, a primeira que vem na minha cabeça: Thomas Robert Malthus defendeu com rigor científico a finais do século XVIII que haveria escassez de comida. Muitos deduziram a partir de suas ideias que a humanidade pereceria de fome. O Malthusianismo de vez em quando volta a cena, a última vez que eu lembre foi na década de '70, mas hoje maiormente foi esquecido porque fomos capazes de desenvolver técnicas para melhorar o rendimento da agricultura e porque em definitiva, a humanidade sempre encontra os caminhos de realimentação que fazem com que esse destino cruel não chegue.



Thomas Malthus
Thomas Robert Malthus (1766 - 1834), economista inglês, autor do Ensaio sobre o princípio da População (1798) que afirma que enquanto o número de habitantes cresce em progressão geométrica, a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. É fácil concluir a partir deste modelo que num futuro próximo se produzirá uma fome generalizada.

3) A teoria do câmbio climático não fecha. Quer dizer, não que não acredite no câmbio, o que não fecha é o Apocalípse. Mesmo considerando que as conclusões publicadas não sejam erradas e a temperatura subiu 0,74 ºC entre 1906 e 2005, as previsões do Painel Intergovernamental para o Câmbio Climático (IPCC) me parecem exageradas. Muitas delas são baseadas em modelos que sabemos incompletos. E que são incompletos sabemos porque nenhúm desses modelos foi capaz de prever com suficiente anticipação fatos como a nevada de 9 de julho de 2007 em Buenos Aires. E nenhum desses modelos é capaz de explicar por qué o gelo da Antártida não diminui, ou por qué não tem mais ciclones tropicais (fatos reconhecidos pelo próprio Painel). Colocado de outra forma, o modelo de produção de alimentos e de crescimentos da população de Malthus que comentei antes não estava errado, era, simplesmente, incompleto.

4) Existe uma ideia generalizada de que a Natureza mantem um equilíbrio que o homem veio a quebrar. O própio relatório do Painel diz textualmente, "O aquecimento atropogênico pode gerar alguns impactos abruptos e irreverssíveis, dependendo da taxa e magnitude do câmbio climático" (tradução minha). No entanto sabemos a vida é um processo termodinâmico irreverssível, e por isso está sempre fora do equilíbrio. O que chamamos equilíbrio não é mais que uma sensação criada por um olhar fugaz, tanto espacial quanto temporal.

Há 60.000 anos, a temperatura da superficie da Terra era 8ºC inferior à atual (uma mudança 10 vezes maior que a atual se aceitamos as conclusões do Painel). A vida não desapareceu e ainda mais, tinha um mamífero bípede, que vivia em cavernas e que provavelmente já tinha descoberto sua subjetividade, que hoje chamamos homo sapiens sapiens e que sobreviveu esse inverno extremo em condições bastante menos vantajosas que as atuais. Mais ainda, esse episódio, um prologandíssimo e severo inverno, aconteceu não uma mas quatro vezes nos últimos 400.000 anos. E o homo sapiens sapiens suportou as quatro vezes as condições extremas.

Não vou a entrar aqui na análise econômica e geopolítica relacionada ao Câmbio Climático. Me supera. Falo como um cientista acostumado a lidar com instrumentos de medição, dados e modelos. Não acredito que tudo seja uma mentira. Uma parte é verdade. Resta ainda saber qual.

PS.: Um dos textos mais angustiantes que li recentemente é o Relatório do IPCC. É de tirar o fólego. O Apocalípse de São João parece conto de crianças...

sábado, 14 de noviembre de 2009

2012: o site

Meu silêncio dos últimos meses tem um motivo. Depois de muito trabalho pude lançar em Internet ontem 13 de novembro de 2009, 2012: A Hora Última, um site inteiramente dedicado às profecias de fim de mundo para o ano 2012.

É um site em construção: como um blog irei colocando pouco a pouco distintos artigos que formam o plano da obra. A ideia é ir além de simplesmente analisar as profecias sobre 2012, ali também teremos seções que expliquem com clareza as questões científicas que abordam as profecias. E um pouco da história maia. Um site bilingüe (espanhol/português) como todos os que encarei ultimamente.

Convido todos a disfrutar deste novo projeto que, espero, sea de seu interesse.

lunes, 26 de octubre de 2009

2012 em 2220?

Como já relatamos muitas vezes antes, toda a ideia do apocalípse de 2012 começa com a verificação de que em 21 de dezembro desse ano, chegará ao fim a Contagem Longa, um dos ciclos do calendário maia. No entanto, um detalhe que deve ser considerado é que quando a chegada dos conquistadores espanhois, a Contagem Longa não era mais utilizada pelos maias, e, portanto, não é possível uma correlação direta entre esse calendário e o nosso.

A maior parte dos estudiosos modernos aceitam um trabalho feito por Goodman, Martínez e Thompson (conhecido por GMT). É este trabalho que sustenta a previsão do fim da Contagem Longa em 2012. Mas não é o único. Segundo um trabalho feito por Herbert Spinden, o início da contagem maia começa 260 anos antes, ou seja, o tão temido dia do Fim do Mundo já aconteceu e nem nos enteramos.

Outros trabalhos colocam a mesma data mais para frente: por exemplo George Vaillant adiciona 260 dias aos valores obtidos usando a correlação GMT. E agora acabo de tomar conhecimento de um trabalho de Andreas Fuls, geodesta do Instituto de Geodésia da Universidade Técnica de Berlin que diz que o fim da contagem longa será em 2220. Eu solicitei a Andreas cópia do trabalho para analisa-lo com calma.

De qualquer forma é interessante ver como não temos nem sequer certeza de quando o evento poderia acontecer, visto que os criadores do sistema já não estão mais entre nós. É importante ressaltar que nenhum dos profetas de 2012 é autenticamente maia. Mas, mesmo se eles fossem, a cultura maia cássica está maiormente perdida desde antes da chegada dos espanhois.

Tudo isso reforça minha convicção de que 2012 é apenas um mal entendido, uma interpretação errada de antigos costumes, talvez amplificado nesta época de fracas esperanças.

lunes, 3 de agosto de 2009

Os Maias não morreram

É uma ideia comum que os maias desapareceram antes da chegada dos espanhois. A ideia ganhou tanta força que hoje existem relatos (e até documentários de TV!!) que contam a história de um povo que abandona suas cidades e marcha para algum destino celestial.

No entanto, como já dissemos, os maias não morreram, nem sua cultura desapareceu. Estão alí, no mesmo lugar onde estavam 500 anos atrás quando chegaram os conquistadores.

Para ser concretos: o povo maia nunca organizou-se numa nação, mas em torno de Cidades Estado. Estas cidades tiveram seu apogéu e decadência. A mais esplendorosa de todas, Tikal, perdeu seu poder muitos anos antes da chegada dos espanhois. Mas a identidade maia, refletida na lingua, tradições, arte, etc, continuou. Foi arrasada pelos espanhois, e as doenças europeias. Mas apesar disto, hoje em dia mais de 6 milhões de pessoas falam maia, vivem en palhoças, tecem suas roupas e manufaturam sua baixela.

Infelizmente o povo maia que viveu relativamente a salvo nos últimos 500 anos é novamente ameaçado. A globalização está conseguindo mudar as roupas tecidas em suas próprias tecelagens por confecções chinesas, e as vasilhas de barro estão sendo substituidas por potes de plástico. Além da onda de pilhagem dos restos de seus antepassados para alimentar um voraz mercado negro arqueológico que está ameaçando seriamente sua memória.

Por qué tanto misterio então? Em parte foram os espanhois os responsáveis, quando dominaram o povo maia: mataram seus reis, sacerdotes e escribas. As chaves da escrita se perderam, também boa parte dos conhecimentos sobre a cultura. O povo se ajeitou de alguma maneira para transmitir as tradiçoes. Mas hoje en dia tem-se conseguido descrifrar grande parte dos hieróglifos maias. Se os caçadores de tesouros não chegam a acabar com o pouco que sobrou da época dourada da civilização maia, poderemos entender melhor sua história. E também a nossa.

lunes, 27 de julio de 2009

Nunca estivemos na Lua (!?)

Há 40 anos, eu era apenas uma criança, achava que hoje estaria de férias na Lua. Na verdade não achava, tinha certeza. Semelhante a de que amanhã estarei no escritório as 7 hs. Meu tio avô dizia que eram todas mentiras, inventos de Hollywood, ninguém tinha saido da Terra. Meu tio avô nasceu por volta de 1895, antes dos aviões, do telefone, da televisão... Não era de estranhar sua incredulidade. Mas, me preocupa a atual onda de ceticismo sobre a realidade de uma das maiores fazanhas da humanidade.

Uns anos atrás escrevi um artigo sobre o Falácia Lunar (em espanhol) que não vou repetir agora aqui. Prefiro continuar refletindo sobre o motivo pelo qual tanta gente é induzida a não acreditar. No início minha reação era de indignação, sentia que uns poucos conseguiram convencer outros muitos com fins puramente comerciais. Hoje tenho uma visão menos conspirativa, se existe tanta gente que não acredita, deve existir um motivo mais poderoso. Ao final de contas não creio que a imprensa tenha tanta capacidade de convencimento.

Eu acho que o motivo principal para não acreditar nas viagens para a Lua é que nunca mais retornamos. O programa Apollo começou em 1961 quando o presidente dos EUA, John F. Kennedy anunciou que antes do fim da década a NASA iria colocar um homem na Lua. No entanto, sua fase mais conhecida começa em dezembro de 1968, quando a missão Apollo 8 orbita a Lua. A glória viria com Apollo 11, em 20 de julho de 1969: dois astronautas pousam os pés sobre o empoeirado solo lunar. O interesse continua e até aumenta com a Apollo 13, que quase acabou em tragédia (interessante, esta é a única missão que mereceu um filme!). Depois virão várias missões mais, algumas com o simpático carrinho. Mas finalmente os espectadores começaram a se entediar, tornaram seu interesse para questões mais urgentes, como a Guerra do Vietnã ou o escándalo do Watergate. A economia norte-americana passava por uma crise, então em 1975 o programa foi encerrado. No entanto, o último vôo tripulado para a Lua partiu de Cabo Cañaveral em 7 de dezembro de 1972.

Ou seja que a fase gloriosa durou apenas quatro anos. Confesso que para mim foram infinitos dias, mas claro, era só uma criança. E hoje, a 40 anos daquelas epopeias, parece um lapso muito breve, um instante apenas. Esquecimos a quantidade de vezes que vimos as cenas dos poderosos motores do Saturno V lançando labaredas vermelhas (O verão do Foguete como poeticamente o chamou Ray Bradbury), os técnicos frente a seus consoles de controle em Houston, as pessoas em Cabo Cañaveral batendo palmas, braços ao alto.

Apesar de que a exploração espacial continuou, ela ficou estagnada. Como eu disse no início, eu esperava estar de férias na Lua hoje. Pelo contrário, lutamos há anos para construir uma estação espacial, bastante menos ambiciosa do que as que vimos nos filmes de 40 anos atrás. E se lembramos das duas tragédias do transbordador espacial, o balanço parece mostrar que a tecnologia ainda não se desenvolveu o suficiente. Ir ao espaço continua a ser un jogo arriscado e caríssimo que poucas nações conseguiram. Marte está muuuuuito longe... E as estrelas aínda num infinito inatingível.

Por sorte temos muito tempo pela frente. Sou um trekkie que acredita que o nosso destino está nas estrelas. É apenas questão de tempo e perseverânça.

miércoles, 8 de julio de 2009

Marte, a Lua e os Maias

Recebi o seguinte e-mail:


Duas Luas no Céu

O planetário Internacional de Vancouver da British Columbia, Canadá, calculou com precisão a órbita de Marte para o dia 27 de agosto de 2009. Mas o mais interessante é que os mesmos resultados estão escritos num códice maia encontrado na pirámide ao lado do Observatório Estelar em Palenque, estado de Chiapas (México). Por esse cálculo matemático agora os Maias são considerados como os gregos da América, e orgulho de México. Pelo menos quatro ou cinco gerações da humanidade não voltaremos a ver esse fenômeno natural. Muito pouca gente sabe por enquanto. Isto foi publicado na segunda feira 11 de maio de 2009:

No 27 de Agosto, a meianoite e 30 minutos, olhar o céu. O planeta Marte será a estrela mais brilhante. Será tão grande quanto a Lua cheia. Estará a 55,75 milhões de kilómetros da Terra. Será como se a Terra tivesse duas luas. A próxima vez que isto acontecer, será em 2.287.

Uma mensagem semelhante circula pela Internet há varios anos. A originalidade deste é a adição dos maias na história. Mas vejamos, o qué há de verdade? A cidade de Vancouver tem um planetário, embora não consegui achar seu site na Internet. Podemos supôr que de tanto em tanto publica notícias informando sobre as atrações que podem ser observadas a olho nú.

Como não consegui o texto que supostamente redigiu o Planetário de Vancouver, tentei conferir a exatidão das informações astronômicas.

No dia 27 de agosto de 2009, Marte estará a 244 milhões de km da Terra, e não a 55,75 milhões como diz o texto. Meu cálculo foi realizado com o programa HORIZONS criado pelos cientistas do Jet Propulsion Laboratory no California Institute of Technology. A uma tal distância, Marte será um pontinho, uma estrela de magnitude 1, brilhante, mas não chamativa. E a Lua, objeto com o que, supõe-se, igualará em brilho, terá magnitude -10, (sim, negativa†).

Fica uma pergunta aínda: pode Marte ser tão brilhante quanto a Lua em alguma circunstância? A resposta é só se uma catástrofe tirasse o planeta de sua órbita e o aproximasse da Terra. Marte, como a Lua, é um corpo opaco e seu brilho depende da reflexão da luz solar. A Lua reflete um 12% da luz que recebe, enquanto que Marte um 15% (este valor é conhecido como albedo), quer dizer que ambos são parecidos. Assim o brilho que vemos deles depende apenas da distância à Terra e do seu raio. O raio de Marte é de 3.389 km, enquanto que o da Lua é de 1.737 km, então o brilho seria igual se Marte estivesse a uma distância da Terra de uns 780.000 km, quase o dobro da distância Terra - Lua. Para conseguir fazanha tal, deveriamos mudar a órbita de Marte atraindo-o para o Sol, uns 75 milhões de km!

Por último, não temos nenhuma evidência de que esse cálculo fora, sequer, suspeito pelos maias. Simplesmente, eles são colocados no meio para dar um toque de mistério... Os maias hoje são fashion.

P.S.: Faltou dizer que duvido que um relatório tão cheio de gafes fora redigido por planetário qualquer. Me perguntou se o fato de o planetário de Vancouver não ter site na Internet não foi um motivo para que os autores da mensagem o tenham escolhido como responsável pela notícia (03.08.2009).

† A classificação de objetos celestes por magnitudes é um pouco estranha a primeira vista: quanto menor o número, maior o brilho. Coisas de astrônomo...

sábado, 6 de junio de 2009

AF 447

Após 5 dias de intensa cobertura na imprensa, hoje a sigla AF 447 já tem um significado próprio. Até pouco tempo era uma sigla mais, daquelas que unicamente conhecem os que trabalham na área, ou que buscam desesperados os pasageiros em seu cartão de embarque para prencher os formulários de alfândega e migrações.

Mas, quis um fato aínda muito confusso, que AF 447 signifique hoje muitas outras coisas. Sem ter feito busca alguma pela Internet, tenho certeza de que milhares de páginas foram abertas para discutir as causas do acidente do vôo de Air France que partiu no domingo passado, 31 de maio, de Rio de Janeiro e se perdeu no eceâno profundo da noite.

Não é necessário ter muita imaginação para montar uma teoria conspirativa: desde bombas até abduções (sequestros) por ET, sem esquecer a proximidade com o Triángulo das Bermudas e sua nunca comprovada capacidade de teleportar objetos. O repertório clássico. Numerologicamente 447 equivale a 6, que é o número do equilíbrio, muito longe dos 11 ou 22 que representam os câmbios e os perigros. Mas não demorarão a achar razões de suspeita na data, na hora ou no nome do piloto.

Sempre é assim quando uma catástrofe acontece. Por um lado buscamos a explicação que devolva a orden no caos. Por outro nos parece que só um fato de extrema gravedade, inusitado, indizível, incomum e todos os outros adjetivos que descrevem a inverossimilhança, podem ser responsáveis de uma tragédia. Tornamos paranóicos, nos achamos vítimas de uma perseguição eterna.

Costumo pensar a vida em termos mais simples. Para mim AF 447 é a metáfora do Titanic, o navio que nunca iria afundar. É a forma cruel com que somos forçados a lembar os limites de nossos conhecimentos e tecnologias. Pôde ter sido um acidente ou pôde ter sido um crime. Em ambos os casos, muitas coisas falharam e hoje centenas de pessoas sentem que o mundo é absurdo e suas vidas vazias e frias porque ali, no fundo do mar, ficou para sempre o calor da carícia amada, o amor do sorriso esperado, a esperança da eterna felicidade.

AF 447
me mostra, en definitiva, que seguimos sendo muito pequenos frente a inclemência do destino e que nossas disputas, além de mesquinas, são fúteis.

lunes, 18 de mayo de 2009

O Sol não sabe de Calendários Maias

Tal como podia ser visto nos últimos meses, a atividade solar está num nível muito baixo, e os novos prognósticos acreditam que o próximo máximo será entre maio de 2013 e maio de 2014. Não apenas isto, mas será um máximo diminuido, com escasa atividade. A figura abaixo, realizada pelo Centro de Predição do Clima Espacial da Administração Nacional do Oceano e a Atmosfera (USA), mostra a progressão esperada para o novo ciclo solar. Como se ve, a intensidade geral do ciclo será metade da do anterior.




Progressão esperada do ciclo solar. No eixo horizontal (abcissas) o ano (sem o prefixo "20"), no eixo vertical (ordenadas), o índice de Manchas Solares. Os pontos e a curva negros representam o índice médio de cada mês, a curva azul é uma média corrida, a curva vermelha é o índice médio mensal esperado. O máximo está deslocado para 2013/2014.

De duas uma, ou os maias não sabíam física solar, ou o Sol não está coordenado con o calendário maia. Mas em 21 de dezembro de 2012 nada de interessante acontecerá com o Sol.

Mais provavelmente, nossos profetas do apocalipsis, mais uma vez, lançaram ameaças vazías e infundadas ao ar. Michio Kaku pode também ficar tranquilo, não será desta vez que teremos uma explosão solar como a de 1859.

sábado, 16 de mayo de 2009

Cosmos

O ano, 1981. Eu era um aspirante de estudante do curso de física da Universidad de Buenos Aires. Morava no apertado apartamento de meus queridos e saudosos tíos Morocha y Hugo. Um moleque de 19 anos que aspirava dedicar-se às ciências, enquanto realizava tareas administrativas num prédio da zona de Retiro em Buenos Aires. Com muita propaganda anunciou a televisão que iria passar uma série documental sobre astronomia chamada Cosmos. Parecia um progama interessante. Meu primo Alberto me invitou a assisti-la em sua casa, durante o jantar, acredito que ia toda quinta as 9 da noite. A comida extendia-se bem depois da emissão do programa, em meio a discusões quase-filosóficas e especulações meio-científicas. Cosmos virou a minha cabeça.

Permitam uma localização histórica a quem veio depois no mundo. Internet não era uma palavra aínda, pelo menos não para a maioria do mundo. Os computadores tinham tamanhos comparáveis a uma sala. A divulgação científica era escassa. A última grande missão ao espaço era o envio de duas sondas a Marte de nome Viking. O maior telescópio continuava a ser o de Monte Palomar, com pouco mais de 5 m de diâmetro. (Estava também o soviético do Cáucasso, de 6 m, mas de performance tão ruim que nunca produziu um resultado científico importante.)


Carl Sagan frente a uma das antenas do Very Large Array em New Mexico (USA)


O documental centrava-se na figura de Carl Sagan, um astrofísico de importantes contribuções e que gostava dizer que era um exobiólogo. Tudo podía ser relacionado ao fluir do Cosmos, a física, a matemática, a vida, a história do Mundo. De fato o título completo era: Cosmos: Uma viagem pessoal. Treze capítulos (talvez quis mostrar Sagan que não era supersticioso?) com títulos tão sugestivos como As Margens do Oceâno Cósmico, Uma Voz na Fuga Cósmica ou Quem fala pela Terra? formavam a coleção completa que depois foi vendida como livro, em fitas VHS, e agora DVD. O relato de Sagan era fluido e nos trazia uma mensagem ao mesmo tempo positivista e racional como esperançada e moral. Sagan era un apóstolo da ciência na que acreditava apaixonadamente. A série contava também com uma seleção musical excelentemente escolhida que incluia a Shostakovich, Mozart, Pachelbel e a famosa peça minimalista Alpha de Vangelis, dentre outras. A isto adicionava-se um trabalho artístico dirigido pelo genial Jon Lomberg, que em alguns casos parece ter previsto as imágens que tomou o Hubble Space Telescope mais de 10 anos despois. O formato em geral, invitava à reflexão, longe dos nervosos documentais Videoclip-like que mais confundem do que esclarecem.

Leio hoje no jornal que completa 29 anos a estreia da serie nos USA e aquí no Brasil já preparam as celebrações dos 30. Na Argentina a série é repetida no canal público Encuentro. Me alegra. A geração Cosmos, a qual eu pertenço, muito lhe deve. Como também à série Connections de James Burke, assim como aos films Tron, Blade Runner (dentre outros), às novelas da n-logia Fundação (Asimov), ao Cubo Mágico e às calculadoras programáveis HP. (Eu adiciono meu queridíssimo e não tão popular Stanislaw Lem cujas novelas Investigação e Febre do Feno me fascinaram enquanto que Ciberíada me fez rir até o desmaio).

É uma excelente notícia saber que Sagan ainda segue fazendo escola. Aínda mais no Ano Internacional da Astronomia. Deixo aqui a primeira parte do capítulo de apresentação. espero que o desfrutem tanto quanto eu.

martes, 5 de mayo de 2009

Confusões Eruditas

Hoje me deparei com o siguente trecho de um programa de notícias norte-americano: link.

Para aqueles que tiveram problemas para entender o inglês, resumo: A partir do cálculo da energia liberada durante uma explosão solar, seguida muito provavelmente de uma ejeção coronal de massa, acontecida em 1859, especula-se quais seriam os danos potenciais que poderia trazer o mesmo fenômeno hoje. Não me interessa entrar no detalhe de saber se o cálculo é correto ou não. Entretanto gostaria de dar um contexto fenomenológico, histórico e social.

A explosão do 1ro de septembro de 1859, que parece referir o astrofísico entrevistado, foi uma das mais intensas já observadas e deu origem ao estudo do fenômeno em geral (nunca antes tinham sido observadas com telescópios). Apesar de contar com poucos instrumentos na época, podemos saber agora que a mesma provocou uma tempestade magnética muito intensa na Terra. Michio Kaku, o astrofísico entrevistado, diz que agora foram realizadas estimações da energia liberada por aquela explosão e que a partir desses cálculos conclui-se que se voltasse a acontecer poderia gerar um prejuizo econômico equivalente a 10 furacões Katrina. Com o próximo máximo de atividade solar previsto para 2012, ele alerta para tomar medidas preventivas urgentemente.

Pela estrutura do programa, tudo indica que se trata daqueles noticiários (shows) sensacionalistas. Mas desta vez entrevistou um astrofísico de nome. Quem é Michio Kaku? Trata-se efetivamente de um físico teórico que trabalha em teoria de cordas, e se dedicou a divulgação científica ultimamente con não pouco sucesso. Tanta exposição ao público parece te-lo tornado promíscuo evidentemente, e assim não teme lançar uma afirmação, a primeira vista, infundada. Algum reflexo de cautela lhe faz repetir duas vezes que o fenônemo poderia acontecer novamente talvez, talvez (perhaps, perhaps diz em inglês).

Sim, é infundada, porque, independentemente do que a explosão de 1ro de seiembro de 1859 poderia fazer hoje, a verdade é que não temos como prever se outra explosão como aquela poderia acontecer nem quando. É como se eu amanhã afirmasse que devemos tomar medidas urgentes porque um vulcão gigantesco pode entrar em erupção e suas cinzas criar um inverno global prolongado. Isto já passou, por que não poderia voltar a acontecer?

Depois daquela primeira explosão solar de 1859, observamos milhares mais. Nunca, nenhuma outra teve esse poder. E aínda mais, o evento aconteceu durante um ciclo de atividade solar que não foi dos mais intensos. Tivemos na década de 1950 um dos períodos mais ativos dos últimos 11.000 anos. E não se registruo uma explosão como a de 1859. Mas a ignorância nos leva justamente a intentar conhece-las melhor, para evitar desastres futuros. Faz anos que todos os países investem muito dinheiro para poder detectar prematuramente ou prever estes fenômenos que são englobados no chamado Clima Espacial.

Uma pena, um desserviço, quem tem que trazer tranquilidade à população, parece abusar dela e de sua credulidade. A dialética do medo me resulta imoral.

sábado, 2 de mayo de 2009

2012 - Uma Correção

Na entrada sobre 2012, eu disse que o calendário maia acabaria uma Contagem (ou Ciclo) Longo no 21 de dezembro de 2012. Não é assim. A origem deste novo Apocalipse é uma re-interpretação do Popol-Vu, livro que conta a criação do mundo segundo os antiguos maias. Segundo o livro estamos vivendo o quarto Ciclo Longo que começou um 13,0,0,0,0. Segundo autores New Age, o quarto Ciclo acabará igual que o terceiro. O próximo 13,0,0,0,0 seria em 21 de dezembro de 2012.

O calendário maia seria um sistema quase-vigesimal, ou seja, de base 20:








20 kins (días) = 1 uinal
18 uinal = 1Tun
20 Tun= 1 Katun
20 Katun= 1 Baktun

Desta forma, o maior número que pode ser criado é 20 baktun = 20x20x20x18x20 kin = 2.880.000 kin (días), uns 8.885 anos solares .

De qualquer forma me pergunto, por qué espera-se que o Ciclo Longo atual tenha o mesmo fim que o anterior? A isto me refiro quando digo que se trata de re-interpretações de antigas tradições, contaminadas seguramente por toda a nossa cultura moderna.

viernes, 1 de mayo de 2009

O Calendário Maia

Escutei muitas vezes dizer que o Calendário Maia é muito mais preciso que o nosso. Quando pensamos o que a nossa tecnologia é capaz fazer, a comparação de calendários dá a entender que os maias possuiam uma tecnologia ainda superior. Não quero entrar aqui no debate de se o calendário maia era melhor ou pior que o nosso. Prefiro colocar uma perspectiva histórica.

O calendário em uso no mundo inteiro, chamado Gregoriano em homenagem ao papa Gregório XIII, foi instituido pelo máximo prelado da Igreja Católica em outubro de 1582. Apenas 40 anos antes tinha falecido Nicolau Copérnico (1543). Galileo Galilei tinha 18 anos, Johannes Kepler apenas 13, Isaac Newton ainda não era nascido. O telescópio era desconhecido, e os relógios altamente imprecisos. A mudança no calendário Juliano foi solicitada pelo Concílio de Trento (1563), passou por um longo processo até ser instaurado em 1582 e alguns dos maiores astrônomos da época, como Maestlin (mestre de Kepler) e Joseph Scaliger, consideraram que era péssimo. Apenas o prestígio de Christopher Clavius o manteve vivo.

Na verdade um calendário não precisa ser muito acurado. Ele serve apenas para que os agricultores tenham uma referência razoável da época do ano e poder assim decidir quando semear, e quando colher. Para a Igregia Católica, o calendário devia marcar a época da Páscoa, atada às lunações e o equinócio. Os calendários são um reflexo de nossa tradição cultural, social e religiosa.

No entanto uma espaçonave com destino a um outro planeta deve conhecer o tempo com precisão melhor que 1 segundo. Então, se consideramos o Tempo Atômico Internacional (TAI) o calendário de nossa era tecnológica, bem, ele é bastante mais acurado que o Maia.

2012

Áspero é o rosto de Deus este dia e ásperas as coisas que traz.
Registro maia para o dia 5 Ahau.

Em Calendário Gregoriano 21 de dezembro de 2012, 11:11 GMT, em Calendário Maia 13,0,0,0,0 e em Dia Juliano 2.456.282,9659722229. Esta é a cifra da nova Besta, aquela que virá para acabar com a humanidade. Não será um monstro de 7 cabeças e 10 chifres desta vez. Dizem que três conjunções nos aguardam quando chegarmos ao fim da contagem longa do calendário maia: o solstício, um alinhamento com o plano galático, o máximo da atividade solar. E que acontecerá nesse dia: o Fin ou um Novo Início?

Desde que sou criança leio sobre preságios de Fim de Mundo. Cresci com o temor de que uma guerra nuclear acabara com la civilização. E confesso que durante minha infância e juventude nunca fiz planos para além do ano 2000. Era intituivo, não tinha nada de racional.

Em certa forma é razoável a preocupação com o Fim do Mundo. Somos mortais, nossa única certeza é a de nossa própria morte. Ao longo da vida vamos, primeiro nos acostumando à ideia de morrer, depois, nos preparando de alguma maneira para nosso último ato. Preve-lo, pensa-lo, é uma forma de vence-lo, talvez. Assim também atuamos em relação ao Mundo. Antecipar seu fim nos dá uma espécie de tranquilidade.

E agora estamos sendo colocados diante de um novo marco. Depois de vencer a pasagem do milênio com certa integridade, espera-nos outra data magna em poucos anos. O que ela tem de particular? Bom, simplesmente que uma folha do calendário maia deve ser descartada, e começa uma espécie de Ano Novo. Um ano de 1.872.00 dias que, segundo arqueólogos modernos, teria começado em 13 de agosto de 3114 A.C. Como todo Ano Novo, seguramente os maias temeram o que viesse depois. Deixaram presságios, fórmulas para esperar um acontecimento tão importante. Promessas para melhorar nossa sociedade, e votos para terminar com os medos e as doenças. Talvez pensaram seriamente que viria um Fim de Mundo. De qualquer forma, mais de 1000 anos os separava da data temida. 2012 era para eles tão distante como o Big Bang é para nós.

A cultura que gerou esta tradição hoje não existe mais (embora os maias sim continuam a existir, como podemos comprovar viajando a México, Guatemala ou Belize), mas nossa sociedade neurótica de medos, recuperou seus mitos. Quem sabe se os interpretamos corretamente. As crenças só têm sentido dentro do ambiente em que foram criadas.

Enquanto isso Google informa que mais de 1 milhão de páginas de Internet contêm as palavras 2012 e apocalipse (procurei em português, espanhol e inglês). Contadores regressivos mostram quantos dias, horas, minutos e segundos faltam. Intérpretes competem por dar a melhor versão.

E eu observo este quadro um tanto desolador e me pergunto como evitar tanta ansiedade desnecessária...

miércoles, 29 de abril de 2009

Credo

Debes creer me digo
y creo en el ombligo que me vio nacer,
en una yema batida para cinco
y en la máquina de coser,
Singer se llama y seguirá viviendo
que no cosiendo después del ombligo muerto.
Muerto?
Ya no morirá. Ha dado cinco ombligos nuevos
y uno de ellos otros cuatro
y dos mas, dos cada uno.
Asi seguirá hasta que una píldora
mate al amor
o un hambre mate a la píldora
o una bomba mate a los dos.

Alberto Giménez de Castro - circa 1968

PS.: Desculpem que não traduza o texto, mas me resultaria muito difícil. De todo modo dá para entender, não dá?